O ônibus

Filed under: by: Bru Holmes

Parada no ponto de ônibus, avisto o horizonte com esperança poliânica. Fico a ver navios, ou melhor, carros. Invejo-os.
De repente o oeste se ilumina e o coletivo segue em minha direção. Faço um sinal com a mão, e ele então passa reto, me deixando ali, abobalhada. Ah, então é assim, é? Certo.

Chega, quinze minutos depois, um outro ônibus que me serve.
Vou pro meio da pista, aceno com os dois braços como uma náufraga, aí ele pára, o cretino. É a lei da selva, filha, diz o motorista, conformado. Entro no ônibus, e já me arrependo. Lotado. Um fio de cabelo teria de se esforçar para se ajeitar ali.

Pago ao cobrador sem nem olhar na cara dele. Avisto um inesperado lugar vago, deixado por uma moça que está saindo. Dou um salto tigrino, derrubando os concorrentes, e sento ali. É a lei da selva, como disse o motorista.

Hora de observar o terreno. Que chata eu sou, olhando o que não devo. À minha direita, janela. À esquerda, cara coçando o saco. Atrás, uma criança comendo salgadinho. Na frente, o cobrador. Mas pera lá, não é qualquer um. É “o” cobrador. Olho verde, cabelo bagunçado, e o melhor de tudo:mão esquerda vazia .

Me reprimo. Quequéisso? Ficar olhando o “moço”? (por que será que chamamos de “moço” até aqueles senhores de 80 anos? Chega, tô fugindo do assunto).

Esquadrinho o ambiente. Vendo que o terreno tá livre, retoco o batom e arrumo o cabelo. O cobrador nem olha. Aposto que se eu estivesse tirando meleca do nariz, ele olhava, o chato.

Fico tão absorta nesses pensamentos que nem reparo que já chega minha parada, onde devo saltar. O que não faz a falta de um carro...

2 comentários:

On 26 de abril de 2008 às 15:30 , Augusto Medeiros disse...

Muito bom!!
Gostei

 
On 19 de junho de 2008 às 17:37 , Maíra Teixeira disse...

Nossa Bru, muito beom. Adorei o conto e me identifiquei com seus pontos de vista.